Qual a correlação entre bons CEOs e empresas bem sucedidas?

Mar 15, 2021        

Milton
Qual a correlação entre bons CEOs e empresas bem sucedidas?

Se você é empreendedor, você provavelmente já leu algum livro que conta sobre o sucesso - ou fracasso - de empresas.

As livrarias e as estantes estão recheadas de livros que contam histórias sobre as empresas mais bem sucedidas do mercado. De Built to last (Feitas para Durar) e In Search of Excellence (Em busca da excelência) à listagem de Most Admired Companies (Empresas mais admiradas) pela revista Fortune.

Nessas análises os autores buscam por características atemporais que distinguem essas empresas de sucesso de outras e traçam um tipo de "mapa para o sucesso". Se pegarmos os livros mais vendidos, os que apresentam passo a passo, com trilha definida, estão sempre no topo da lista.

Afinal, quem não quer uma receita pronta para o sucesso?

O problema é que essa receita pronta não existe e a ideia de princípios básicos para ter sucesso são uma ilusão - a ilusão cognitiva.

Então quer dizer que as caracterísitcas citadas nesses livros de um CEO e de gestão são inválidas?

Não. A ressalva que o autor de Rápido e Devagar traz no livro é a quebra de relações causais - as quais trazem tanta satisfação para o nosso cérebro - entre um CEO bem capacitado e com ideias disruptivas, e uma empresa de sucesso. 

“Da perspectiva da maioria dos que escrevem sobre o mundo empresarial, porém, um CEO com tão pouco controle sobre o desempenho não seria particularmente notável nem se sua empresa fosse bem-sucedida. É difícil imaginar as pessoas fazendo fila nas livrarias do aeroporto para comprar um livro que descreve entusiasticamente as práticas de grandes executivos que, na média, se saem apenas um pouco melhor que se sairiam por puro acaso."

E por que isso acontece?

Conforme ganhamos experiência de mercado, tendemos a ficar mais confiantes e, consequentemente, mais propensos a superestimar nossas previsibilidades - previsões nas quais são baseadas em experiências passadas. Essa alta confiança somada a visões inovadoras e disruptivas de muitos CEOs com boa reputação de mercado, podem criar a ilusão de serem as causas que levaram essas empresas a terem sucesso no mercado.

Mas é exatamente nessa busca por relações causais no mundo incerto do mercado, que encontramos o efeito halo.

“Se você gosta da política do presidente, provavelmente gosta da voz dele e também de sua aparência. A tendência de gostar (ou desgostar) de tudo que diz respeito a uma pessoa - incluindo coisa que você não observou - é conhecida como efeito halo."

Dessa forma, se vemos um CEO de boa reputação liderando uma empresa com bons resultados, tendemos a dar o crédito para esta pessoa - assim como tendemos a culpar o mesmo personagem no caso de resultados ruins da empresa.

"Em seu penetrante livro, The Halo Effect, Philip Rosenzweig, professor de administração que mora na Suíça, mostra como a demanda por certeza ilusória é atendida em dois populares gêneros de livros de negócios (...) Ele conclui que historias de sucesso e fracasso invariavelmente exageram o impacto do estilo de liderança e práticas gerenciais nos resultados da empresa, e desse modo a mensagem delas raramente é útil."

Isso quer dizer que há um exagero na comparação dessas empresas e o fator principal que levam empresas a terem sucesso ou não - a sorte - não é levado em consideração.

Em outra literatura, Outliers de Malcolm Gladwell, o autor explora bem como a necessidade de horas dedicadas em certa atividade - 10 mil horas, no caso - são um fator observado nos casos de pessoas bem sucedidas em suas diversas áreas - de Mozart a Bill Gates.

Contudo, o autor ainda ressalva que a dedicação e talento nato não são suficientes. As histórias de sucesso vêem acompanhadas de uma localização geográfica oportuna e de momentos históricos relevantes nos quais esses talentos estavam inseridos para alcançarem o sucesso que tiveram - é o que chamamos de sorte.

É observado que nas listagens de companhias nas 3 fontes mencionadas, a disparidade média da lucratividade média e retorno das ações das empresas excelentes e menos bem sucedidas diminui para quase zero no período subsequente do estudo. Empresas avaliadas como excelentes tem sua lucratividade média caindo e empresas com as piores classificações acabaram ganhando retornos de ações mais elevados que a maioria das empresas mais admiradas.

"A disparidade média deve diminuir pois a disparidade original foi devida em boa parte à sorte, o que contribuiu tanto para o sucesso das principais empresas como para o desempenho ruim das demais.”

Essa diminuição da disparidade média entre essas empresas é o que chamamos na estatística de regressão à média

Durante todo o livro esse é o pano de fundo: a incapacidade do ser humano de ter uma boa noção estatística - mesmo para os especialistas - gerando constantes ilusões de certeza e relações causais que nosso cérebro tanto se apetece. Afinal, nosso cérebro está em constante busca por economizar energia e criar atalhos.

O que devemos nos lembrar sempre é que

"Na presença da aleatoriedade, padrões regulares só podem ser miragens."


Esses fatores são de extrema relevância quando tratamos de startups.

Num ambiente caracterizado por ser inovador e disruptivo, explorando caminhos desconhecidos e sem padrões regulares estabelecidos, evitar as ilusões que a mente cria para trazer comforto cognitivo, pode ser a diferença para ter sucesso na sua empresa - além da sorte, é claro.

 

Fonte: Livro Rápido e Devagar de Daniel Kahneman

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