Se você é empreendedor, você provavelmente já leu algum livro que conta sobre o sucesso - ou fracasso - de empresas.
As livrarias e as estantes estão recheadas de livros que contam histórias sobre as empresas mais bem sucedidas do mercado. De Built to last (Feitas para Durar) e In Search of Excellence (Em busca da excelência) à listagem de Most Admired Companies (Empresas mais admiradas) pela revista Fortune.
Nessas análises os autores buscam por características atemporais que distinguem essas empresas de sucesso de outras e traçam um tipo de "mapa para o sucesso". Se pegarmos os livros mais vendidos, os que apresentam passo a passo, com trilha definida, estão sempre no topo da lista.
O problema é que essa receita pronta não existe e a ideia de princípios básicos para ter sucesso são uma ilusão - a ilusão cognitiva.
Então quer dizer que as caracterísitcas citadas nesses livros de um CEO e de gestão são inválidas?
Não. A ressalva que o autor de Rápido e Devagar traz no livro é a quebra de relações causais - as quais trazem tanta satisfação para o nosso cérebro - entre um CEO bem capacitado e com ideias disruptivas, e uma empresa de sucesso.
E por que isso acontece?
Conforme ganhamos experiência de mercado, tendemos a ficar mais confiantes e, consequentemente, mais propensos a superestimar nossas previsibilidades - previsões nas quais são baseadas em experiências passadas. Essa alta confiança somada a visões inovadoras e disruptivas de muitos CEOs com boa reputação de mercado, podem criar a ilusão de serem as causas que levaram essas empresas a terem sucesso no mercado.
Mas é exatamente nessa busca por relações causais no mundo incerto do mercado, que encontramos o efeito halo.
Dessa forma, se vemos um CEO de boa reputação liderando uma empresa com bons resultados, tendemos a dar o crédito para esta pessoa - assim como tendemos a culpar o mesmo personagem no caso de resultados ruins da empresa.
"Em seu penetrante livro, The Halo Effect, Philip Rosenzweig, professor de administração que mora na Suíça, mostra como a demanda por certeza ilusória é atendida em dois populares gêneros de livros de negócios (...) Ele conclui que historias de sucesso e fracasso invariavelmente exageram o impacto do estilo de liderança e práticas gerenciais nos resultados da empresa, e desse modo a mensagem delas raramente é útil."
Isso quer dizer que há um exagero na comparação dessas empresas e o fator principal que levam empresas a terem sucesso ou não - a sorte - não é levado em consideração.
Em outra literatura, Outliers de Malcolm Gladwell, o autor explora bem como a necessidade de horas dedicadas em certa atividade - 10 mil horas, no caso - são um fator observado nos casos de pessoas bem sucedidas em suas diversas áreas - de Mozart a Bill Gates.
Contudo, o autor ainda ressalva que a dedicação e talento nato não são suficientes. As histórias de sucesso vêem acompanhadas de uma localização geográfica oportuna e de momentos históricos relevantes nos quais esses talentos estavam inseridos para alcançarem o sucesso que tiveram - é o que chamamos de sorte.
É observado que nas listagens de companhias nas 3 fontes mencionadas, a disparidade média da lucratividade média e retorno das ações das empresas excelentes e menos bem sucedidas diminui para quase zero no período subsequente do estudo. Empresas avaliadas como excelentes tem sua lucratividade média caindo e empresas com as piores classificações acabaram ganhando retornos de ações mais elevados que a maioria das empresas mais admiradas.
Essa diminuição da disparidade média entre essas empresas é o que chamamos na estatística de regressão à média.
Durante todo o livro esse é o pano de fundo: a incapacidade do ser humano de ter uma boa noção estatística - mesmo para os especialistas - gerando constantes ilusões de certeza e relações causais que nosso cérebro tanto se apetece. Afinal, nosso cérebro está em constante busca por economizar energia e criar atalhos.
O que devemos nos lembrar sempre é que
Esses fatores são de extrema relevância quando tratamos de startups.
Num ambiente caracterizado por ser inovador e disruptivo, explorando caminhos desconhecidos e sem padrões regulares estabelecidos, evitar as ilusões que a mente cria para trazer comforto cognitivo, pode ser a diferença para ter sucesso na sua empresa - além da sorte, é claro.
Fonte: Livro Rápido e Devagar de Daniel Kahneman